terça-feira, 17 de agosto de 2010

CINEMA DE ENTRETENIMENTO É COMÉRCIO ANTES DE TUDO

Encontrei esse artigo que explica resumidamente conceitos fundamentais para quem tem interesse em vender seus projetos. No texto, a autora explica como montar um projeto para captação de recursos mas podemos utilizar os exemplos para todas as fases de produção de um filme. Desde o argumento básico que tem de agradar o espectador, passando pela proposta do filme que deve condizer com os parceiros envolvidos, tudo na arte industrial do cinema tem de ser pensado para o outro se o objetivo for o sucesso de público.

Leia o artigo e veja se concorda:



Artigo de Dani Torres ao site Cultura e Mercado, postado em 13 de agosto de 2010


Elaborar projetos culturais é parte do meu trabalho há quinze anos e costumo auxiliar e orientar artistas e produtores na redação de projetos para apresentação a patrocinadores. Tendo a experiência inversa, a de avaliar projetos para seleção nas empresas, tenho algumas dicas e conselhos que toda esta experiência acumulada me deu e que a minha filosofia de trabalho me instam a compartilhar. O CeM é a oportunidade de espaço para contribuir com outros produtores e artistas que precisam financiar suas propostas.
Tenho visto, cada vez mais, projetos elaborados com capricho e riqueza de detalhes e informações, esmero visual. Porém, geralmente longos e carentes das informações mais importantes para a empresa definir se o projeto interessa ou não, se ela deve (e pode) ou não patrocinar aquela proposta.
Dicas úteis
Um produtor precisa se colocar no lugar de quem vai analisar um projeto, considerando o outro como um ignorante do assunto. Não uma pessoa pouco culta, ou que não entenda de marketing cultural, porque certamente quem avalia propostas nas empresas é justamente o inverso disso. Mas como alguém que desconhece absolutamente tudo do seu projeto específico. Clareza e objetividade são palavras-chave.
Ao redigir uma proposta de patrocínio, tente responder nela estas questões essenciais:
  1. O quê vai ser feito e quem está envolvido?
  2. Quanto custa (e se tem ou não lei de incentivo)?
  3. Quais os benefícios do patrocinador? CONTRAPARTIDAS: o que o seu projeto oferece à empresa em RETORNO ao patrocínio recebido?
  4. Onde e como a marca da empresa vai aparecer? (qual o retorno de mídia e imagem para a empresa?)
Não estou com isto dizendo que o seu projeto tenha que ter somente estes itens. Mas estas são as questões que qualquer pessoa tem que extrair facilmente ao ler seu texto. Outras coisas importantes que podem constar são:
- histórico do projeto (bem resumido, em texto pequeno);
- cronograma ou período de realização;
- público a que se destina ou que será alcançado (perfil mais qualitativo do que quantitativo, mas deve haver previsão dos dois);
- capacidade realizadora do proponente (não necessariamente um currículo tradicional: pode ser um texto pequeno sobre as experiências já realizadas).
Qualquer outra coisa é anexo, complemento do projeto, não a essência dele.
Por favor, não se esqueça de colocar no projeto os contatos do proponente, caso não seja um papel timbrado. Por incrível que pareça, este era um erro comum dos proponentes: se preocupavam tanto com suas propostas que esqueciam do principal…
Convidar alguém que não é da área e não sabe sobre o seu projeto para revisá-lo é uma dica interessante. Se depois de ler a pessoa for capaz de te explicar o que você está solicitando e oferecendo, bingo! Você pode enviar sua proposta. Caso contrário, há uma evidência de que seu projeto não está suficientemente claro e deve ser revisto.
Derrubando mitos
Outra coisa essencial para efetivar uma captação de recursos é identificar projeto e empresa. Estabelecer uma IDENTIDADE entre a sua proposta e o potencial patrocinador é fundamental.
Esta identidade pode passar pelo perfil do público (faixa etária, classe social, etc), pelo perfil de imagem da empresa (frase de campanha, slogan, etc), pela proximidade entre o negócio da empresa (core business) com o tema/assunto do projeto. Isto deve estar na justificativa da proposta a ser apresentada ao patrocinador. A pergunta a ser respondida neste item é: porque a empresa X deve ser patrocinadora do seu projeto Y?
Não funciona dizer que o projeto é maravilhoso, lindo, único, inédito, pioneiro… Quase todos chegam com estes adjetivos que não dizem nada às empresas.
Pensem comigo: quase todos os projetos culturais são únicos. Maravilhoso e lindo são valores que dependem de gosto, o que é subjetivo e pessoal. E você seria um cara-de-pau ou louco de apresentar um projeto ruim a uma empresa? Então saiamos do óbvio: valorize a identidade do seu projeto com a empresa, não se auto-elogie. Em relação ao ineditismo, um projeto que tenha um histórico de realização pode ser muito interessante para um patrocinador, por provar a capacidade realizadora do proponente ou pelos dados que provem o poder de gerar mídia e o alcance de público que pode ter. Só é válido ressaltar o ineditismo de um projeto se em suas pesquisas você descobrir que a empresa com quem negociará valoriza ou procura projetos com esta característica. A lógica em relação ao pioneirismo de uma proposta é mais ou menos a mesma: uma revisão, re-make ou reedição de algo já realizado podem interessar a um patrocinador.
Caminhos
O primeiro passo para uma captação de recursos de sucesso é pesquisar cada empresa a contatar. Por isso mesmo o processo de captação não é de curto prazo. O ideal é usar sua rede de contatos para conseguir agendar uma reunião e apresentar seu projeto pessoalmente. Mas projetos enviados por meios físico ou eletrônico podem funcionar bem, desde que tenham estas características que destaco aqui. E principalmente no caso de envio de proposta em meio físico, capriche na “capa”, chame atenção, invista na apresentação.
Não pretendo encerrar aqui as dicas e é importante deixar claro que não estou dizendo que só isso vá garantir a obtenção de um patrocínio. Há mais que se defender para um patrocinador (prever a questão de avaliação de resultados, garantir a entrega da prestação de contas, deixar espaço para negociação de benefícios e ações em parceria a serem propostas pelo patrocinador, etc)… Enfim, há que se relativizar e agir com bom senso sempre, mas a essência ou o que não pode faltar num projeto foi o que tentei destacar aqui. Sorte e sucesso!
OBS: estas “regras” não são válidas para editais, que exigem o preenchimento de formulários específicos com questões propostas pela empresa. Ainda assim, vale a dica: leia o edital e identifique seu projeto com a empresa e com os objetivos do seu edital. Se não conseguir ou tiver muita dificuldade, desista. Não perca tempo tentando adaptar seu projeto, porque isso significa que seu projeto não será aprovado por esta empresa porque não se identifica com a política de patrocínios desta.

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